Não há estudante ou profissional nos últimos tempos que não tenha sido exposto sucessivamente às novas técnicas e teorias que se propõem revolucionar o processo gerencial das organizações.
Teoria X e Teoria Y, Teoria Z
Enriquecimento do Trabalho, Administração por Objetivos,
Análise Transacional, Sistema HAY, Liderança Situacional
GRID, Qualidade Total
Kanban, Kaizen, Empowerment
Employeeship, Benchmarking, Reengenharia
Downsizing, Rightsizing, Readministração
Qual será a próxima?
Alianças Estratégicas
Organizações Virtuais
Sistemas Integrados
Inteligência Competitiva
Remuneração Estratégica
Todas essas teorias e técnicas, de alguma forma e a seu jeito, têm contribuído para uma melhor compreensão e desenvolvimento do mundo das organizações. Voltadas, no entanto, à realidade da economia industrial, nenhuma delas é ainda capaz de se antecipar e abarcar, de fato, a complexidade da sociedade pós-capitalista, que já começamos a viver.
A transição para o que hoje se convenciona chamar pós-capitalismo ou economia da informação não é sequer a primeira nem será provavelmente a última transformação a produzir mudanças profundas nas relações econômicas, na realidade organizacional e no conjunto da sociedade.
As forças da mudança estão produzindo a maior transformação já vivida pela humanidade nos últimos 500 anos.
Os contemporâneos da mudança geralmente não percebem o que está acontecendo à sua volta. Os que viviam em 1550 certamente não sabiam que já estavam na Idade Moderna. Nem em 1450 os vizinhos de Gutemberg compreendiam o impacto na organização social produzido pela invenção da imprensa.
Estamos vivendo neste fim de século a agonia de uma radical transformação.
Os valores e a visão de Mundo mudam profundamente. As instituições políticas, sociais e econômicas, o mundo das artes e da cultura sofrem e vivem uma descontinuidade, experimentam um ponto-de-reflexão, dão um salto de qualidade.
Os desafios desta transformação não se limitam às organizações, mas afetam totalmente todo o universo social, neste contexto de globalização e de mundialização da economia, de disseminação das tecnologias de informação.
Ansiedade, angústia, apreensão, insegurança e alienação são talvez os sentimentos mais comuns do ser humano moderno. Este é o astral dominante, nestes tempos em que a aldeia global já não é mais um mero exercício de futurologia, mas uma realidade do cotidiano. Os acontecimentos ocorridos em regiões as mais distantes sucedem à nossa própria porta em função dos milagres da comunicação instantânea. É o aqui e agora permanentes, por mais remotos que sejam os locais em que os fatos se dêem.
Esse sentimento generalizado de perplexidade é alimentado pelo desencanto nas reais contribuições do desenvolvimento científico, pelas deformações do modelo econômico vigente e pela absoluta descrença e inadaptação dos sistemas de representação política às necessidades do mundo contemporâneo.
O poder evolui do Estado para a sociedade, da sociedade para os grupos de indivíduos, dos grupos para os próprios indivíduos, e das estruturas hierarquizadas para as redes de informação.
Os padrões de produtividade e eficiência da economia globalizada imporão às organizações um número cada vez menor de empregados. Estes, por sua vez, perderão a lealdade cega do passado e “deixarão de vestir a camisa da empresa”. Começam a abrir os olhos à realidade do novo ambiente de trabalho: não podem mais contar com cargos e empregos até a aposentadoria. A lealdade do empregado deixa de ser à organização e passa a ser à sua profissão e a si próprio.
É o fim do Homem Organizacional, de que nos falava William Footh White. Assim, é preciso ter presente a frase do Rolim Amaro, Presidente da TAM: “os meus colaboradores devem trabalhar como se a empresa fosse deles, mas que não se esqueçam de que ela é minha”. Esta forma de manipulação está com os seus dias contados!
Não sabemos ainda o que o mundo pós-capitalista nos reserva em futuro próximo, mas está claro que a velha ordem capitalista está ficando para trás.
No capitalismo tradicional duas classes dominavam: aqueles que possuíam ou controlavam os meios de produção (os capitalistas) e aqueles que faziam a realizavam o trabalho (os trabalhadores)
Duas grandes alterações nesta relação agora ocorrem, de tal forma que alterarão radicalmente a realidade ainda existente:
primeiro - a democratização da propriedade e do controle dos meios de produção - ou se quiserem, a socialização do capitalismo vai Fundos de Pensão.
segundo - cada vez um número menor de pessoas será necessário para fazer as coisas.
Os fatores tradicionais de produção - capital, trabalho e recursos terão um peso bem menor no processo produtivo.
O novo fator básico da economia passa a ser o conhecimento. O conhecimento é o único fator significativo, diferenciador. Terra, capital e trabalho podem agora ser facilmente resolvidos por uma boa gestão, por uma gestão apenas eficiente.
A classe social dominante no novo mundo que se avizinha será a dos trabalhadores intelectuais, do profissional do conhecimento, que simultaneamente, também será o proprietário dos meios de produção.
Tal realidade muda radicalmente a estrutura da sociedade e, por definição, a realidade, das organizações.
Temos, então, a resposta capitalista ao problema da luta de classes. A superação da contradição intrínseca, de que nos falava Karl Marx, entre Salário e Lucro. A ironia consiste exatamente na concretização das previsões do próprio Marx: os empregados agora são os proprietários dos meios de produção, estão passando a ser também os donos das empresas. As teorias das organizações ainda não consideraram, em toda a sua extensão e profundidade, as repercussões desta nova situação.
É preciso que se perceba que esta nova realidade foi, de fato, iniciada e construída a partir dos primórdios da Administração Científica, principalmente com os estudos e contribuições de Frederick Winslow Taylor e Henry Ford, tanto nos aspectos e dimensões da análise do trabalho com vistas ao aumento da produtividade e da qualidade, quanto à filosofia social que esboçaram. Desde então o padrão de vida da classe operária começou a melhorar concretamente. Hoje, nos países desenvolvidos, e em parcela expressiva dos trabalhos dos países emergentes, o proletariado de que falava Marx se transformou em classe média, com toda a qualidade de vida que lhe é inerente, perdendo, por conseqüência, a sua essência revolucionária.
Cada vez mais se precisará de gerentes eficazes, eficientes e efetivos, gerentes que vão tratar com profissionais que simultaneamente desempenham papéis de patrão e de empregado. Neste novo mundo a competência gerencial será cada vez mas necessária.
As alianças estratégicas, mesmo entre organizações concorrentes, será uma tendência cada vez mais presente: joint ventures, franchises, licenciamentos, consórcios, parcerias temporárias, compra de ações, fusão etc.
A democratização interna das organizações se fará pela via das tecnologias da informação. Agora, com os computadores, a informação - e assim o poder - se disponibilizará em todos os níveis organizacionais.
Assim, um futuro extraordinariamente diferente já se constrói dia-a-dia.
Um comentário:
Caffé, meus parabéns.
É assim que se constrói conhecimento, divulgando-o.
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